domingo, 19 de setembro de 2010

Man's Destruction

O homem é o único condicional pelo seu próprio mal, ele é o rei, é o dono de toda a destruição. A morte que o circunda é apenas reflexo da morte interna. Escondido atrás de sua capa estúpida e penetrável (o corpo), o homem tenta se proteger do mal que por ele é responsável. "Man's Destruction" não é a destruição que o mundo afeta no homem; é a destruição que o homem causa no mundo e dentro de si mesmo.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A fotografia revela um momento único no tempo e no espaço, um registro do que não retorna. Imagem e conceito, para mim, andam lado a lado, visto que não se produz uma verdadeira fotografia caso a comunicação entre a 'pesquisador e o objeto de estudo', 'o artista e a obra' seja vista apenas como um grande amontoado de fatores estéticos. A fotografia não existe sem o "segredo" -Diane Arbus- do que está por trás de sua aparência, ela não pode tornar-se propriamente fotografia se não estabelecer um diálogo, uma conversa, uma dúvida.
Fotografa-se para unir o que se conhece (corpo, matéria) ao que é passível de abstração. A fotografia é o laço entre o reflexo no espelho e a pergunta: Quem sou eu na verdade? Apenas um reflexo em contornos e sombras, ou algo entranhado, ainda não-descoberto, dentro de mim?
O propósito fotográfico não deve permanecer no papel, a fotografia existe na dimensão do fazer, no inesperado, do acaso.
"A fotografia não tem que ser, ela é" - Higor Camargo

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Eu não acredito no talento. Uso a palavra indiscriminadamente, da mesma forma que chamo Deus nas horas certas e erradas, ainda que ele seja pra mim, exato o que o talento é. Eu acredito nas habilidades, aquelas que os homens constroem com o hábito, constroem com o progresso e a necessidade pessoal. Necessidade essa que não necessariamente deve ser lida como 'única saída' -seja qual for-, mas como carência humana. Eu acredito naqueles que vislumbram e insistem. Eu acredito nos fortes.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

tenho que fazer algo com as minhas dores.
Todo período anterior a existência deve ser chamado inocência. Ou infância. Tanto faz.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

não me interessam nomes. me importo com o que sinto.
mas que bobice melhor e pior. não faz diferença! o afinal, sim, muda as coisas.
Que coceira na vida saber que sou mais do que eu via ser.

Miragem Negra

Os olhos devem realmente refletir a alma de um homem. Esses dias comprei uma lente para mentir a cor de meus olhos e percebi que a vida do meu olhar havia partido no reflexo do espelho. Aquela não era minha alma. Minha alma é uma miragem negra, respira no breu, de brilho intenso e imortal. Minha alma é água, é flúida, é um olhar envolto em uma lágrima prestes a cair.
Retiro, com a ponta das unhas ruídas, o plástico colorido que cobre este arrepio, e como num rasgo, retorno em mim.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

As mesmas coincidências que assustaram outrora hoje me encataram -coincidências são essas possibilidades da vida, que por instantes ou mundos tomam-se por eternas -. Por meses venho frequentando a análise e por mais que eu só tenha as palavras para provar, sentada naquela cadeira, que vivo o que vivo; nada poderia ser mais significante para representar minha vida do que ela mesma. Nada pode ser mais significativo para representar minha vida, do que segundos que vivo, as sensações que sinto, as mãos que beijo. Por mais que eu tentasse explicar tamanho sentimento do amor em palavras incompletas, eu sinto que hoje de manhã, a caminho da faculdade, algo incrível aconteceu. Sinto tal como se uma espera terminasse. Uma prova de que as verdadeiras coisas por fim, concretizam-se afinal. Quando minha analista se deparou comigo na companhia do homem que eu amo; e viu que meus olhos se fecharam como um sonho quando fui beijar o meu amor nas mãos, nenhuma palavra dita um dia naquela cadeira teria o valor dessa eternidade vivida.

sábado, 28 de agosto de 2010

O Destino

O Destino dos que foram fracos não é o mesmo que o meu.
"A literatura não resume a sabedoria dos homens, minha nega. A literatura é constância, a literatura é o contínuo movimento dos sonhos, a literatura é a entrega do que sempre fora escondido."
Ansiosamente preciso me curar dessa vida. Me curar dessa vida que não vivo, dessa existência que tento suportar como não suportava antes. São remédios que não tem bula, são comprimidos que não se pode ingerir. A cura da vida é a vida mesma. A cura da vida é vivenciá-la.
Eu momentos me flagro tentando suportar a existência. Fumo um cigarro atrás do outro porque assim pareço raciocinar melhor. Raciocinar melhor seria, utimamente, sensibilizar-me menos com as minhas questões. Olho pro sentido da vida -esse que ainda busco- e não deixo mais que lágrimas caiam dos olhos. Seria a fumaça a fuja do meu choro?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

"Sei que eu existo. Mas ando questionando muito a vida.
O que é viver? Viver é vivenciar sendo o que somos? Vivenciar pelo que existimos? Ou viver naquilo o que queriamos ser? Existência e vida. Estamos falando da mesma coisa?"
A vida não é como um presente. A vida é processo. Processo de cura. A vida é como uma doença que deve ser curada.
Há dias venho evitando que isso aconteça. Sei que a escrita é parte fundamental do meu processo de cura. A análise por si, a medicina e a vontade de avançar, não podem fazer por mim o que o inconsciente revela enquanto eu obedeço. Clarice Lispector disse um dia que dizer sobre quem era de dimensão incompreensível para sua escrita, mas que sobre a vida, ela podia afirmar que vivia. Eu, sinceramente, não sinto que vivo. Os dias passam limpos e vazios por mim, episódios esquecidos dos quais eu não me lembro de mim. É, eu não estava lá. Ainda que eu me pedisse para recorrer a letras e parágrafos minha sabotagem à vida sempre foi superior: os dias passavam sem registros em uma mente que só se lembra do que escreve.
E hoje eu acordei com uma agonia intensa e grande tristeza dos sonhos que sonhei, e sabia que não queria fazer do meu dia alegria e comunhão com ninguém, senão comigo. O que mais me dói no mistério de viver não são os fatos, são as coincidências. Vejo coincidências do que me parece ser sagrado, do que me parece ser diabólico, mas de fato não sei o que elas representam. Talvez sejam apenas esbarrões. Talvez sejam apenas coisas que encontram coisas na hora e tempo exatamente iguais.
Às vezes parece que a escrita esvaziou dentro de mim um baú lotado de poeira. Um baú lotado de poeira que estava prestes a sufocar minha alma.
Seriam gênios os responsáveis por sua própria cura?

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A gula é um prazer da alma. Não um prazer da carne.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Poesia é feita pelos que entendem da língua. Não pelos que entendem das coisas verdadeiramente.
A vida não é feita de metas a serem cumpridas. É feita para ser cumprida. Longa e leve. As metas cortam a linearidade da vida, interrompem seu fluxo. A vida deve ser mantida em sua continuidade, vivida em sua espontaneidade. Metas retardam a natureza a se aflorar no homem: o instinto natural do viver e estar vivo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

"Organizar o pensamento. Pensar correto não é pensar demais."

Quem sou eu?

Sempre fui muito boa em separar a bagunça nas caixinhas coloridas com fitas adesivas contendo nomes, e quando eu me pergunto “quem sou eu?” pareço visualizar um quarto bagunçado que em alguns instantes pode estar todo partilhado, dentro de caixinhas de inúmeras cores, distribuído em uma prateleira.
E aí viriam angústias, amores, encontros, desencontros, conquistas, dores, surpresas, sorrisos, medos e esperanças. Talvez alguns títulos a mais que estes, e em outro momento que eu me (des)escrevesse, possivelmente algo diferente disto tudo, mas agora me defino assim. Eu sou esse conjunto de coisas, separadamente, e quando tudo junta, vira uma complexa bagunça de mim. E aqui paro para ler o que escrevi linhas atrás e penso: Não estou fazendo uma análise psicológica do meu ser? Registrar-me emocionalmente não é pequeno? Dentre as tantas formas que posso ser, sei que sou o que acabo sendo; sou aquilo que posso construir de mim, sou o que posso dizer, quando posso dizer, como posso dizer. O que pulsa ávido de me definir hoje é a minha parte que me torna eu. Amanhã outro, e assim adiante. Por isso eu nunca sou ser fixo, sou eu em construção de mim.
Tal como uma faxina que dá-se num quarto bagunçado, eu me renovo pondo na prateleira novas caixinhas coloridas.

domingo, 8 de agosto de 2010

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Esboço para um Teatro de Sombras

Mundi Ex Aqua
Por Renata Henriques


Existe um castelo, no alto de uma montanha, isolado do mundo.
Dentro do castelo, no quarto mais alto (que dá para ver toda a variedade de cores das árvores daquele lugar) vive uma menina. Uma menina só.

Dentro de seu quarto, dentro do seu mundo, ela não consegue dormir, as criaturas da noite que seus olhos e imaginação podem ver a assombram. Ela se dirige à janela do quarto, para ver a paisagem noturna. Todos dormem, a noite é calma e estrelada. Pássaros passam ...
Caí uma chuva, a princípio amena. A chuva aumenta seu ritmo. Caí mais forte, mais forte a cada minuto... O que era antes chuvisco começa agora a inundar toda a cidade. Ela não está com medo, ela se sente bem. Seu medo se vai, a chuva a acalma a alma.
Desbruçando-se na janela ela vê o que existe abaixo. O mar de águas já beira sua janela, ela vê criaturas marinhas. Tão sutis, tão encatadoras. Lá embaixo, no abissal marinho, ela encherga uma concha. Concha que emana imensa luz azul, e ela sente que precisa se entregar ao mar. Pula da janela, e caí. Mergulha rumo ao nada, ao desconhecido território dos mares... Paulatinamente seu corpo desce nas águas.

Se aproxima da concha, e há um cadeado nela. Nesse momento ela sabe: a chave que carrega no pescoço desde a infância era a única que abriria a concha...
Ela abre-a, e dentro há um menino: um pequeno menino de vestes longas.
Ele sai da concha e se aproxima dela... (nessa hora o ângulo muda: um frame preto torna a cena agora mais próxima, apenas dois rostos se encarando, se aproximando...) ( em seguida muda o frame novamente: o corte anterior ao último, agora com os dois mais próximos...)
E do nada, ela se afasta e sobe vagarosamente à superficie, olhando para baixo.
Ele, lá em baixo, retorna a concha.
Em seguida, ela retorna à sua janela, ficando na mesma posição da primeira vez que pousou seu colo na janela naquela noite.
O mar de águas vai descendo, os seres, sumindo.
A cidade volta a ser o que era antes...

Vê-se agora a passagem de tempo (noite-dia,dia-noite).
A noite, depois de 2 dias, ela chora... Suas lágrimas são tantas, tão pesadas e tão leais à sua dor que encheriam um mar como àquele, tal como em um dilúvio.
Os seres, não reaparecem... Apenas a concha iluminada de luz azul.
Ela desce, vagarosamente... Abre a concha.
Depara-se de novo com o menino, e sente que precisa dele.
Seu coração bate forte (som de coração que pulsa apaixonado). Ela arranca-o do peito e dá a ele.
Sem pensar, ele age da mesma forma. Os corações estão vazados... Há um buraco em seus colos.
Próximos, eles dão mãos e caminham em direção à concha.
Encaixam seus corações ao contrário, um no outro.
São tomados de imensa luz vermelha.
Entram na concha e vivem juntos.
Para sempre. Todo e para sempre mágico mundo das águas.

Itens desenhados:
Castelo
Montanha
Árvores
Criaturas da Noite
Estrelas
Pássaros
A menina - frente, lado, perfil grande
Chuva
Criaturas do Mar
Níveis de Água
Concha com cadeado
Cordão com chave
O menino - frente, lado, perfil grande
Lágrimas
Corações


(texto de 2009)
Sinto-me fria... calculista. Mas juro, eu sentia que naquele momento agir da pior maneira possível
era a única forma de sair dali ilesa. Eu queria mais era que ele sentisse que ia me perder,
que eu poderia (e desejaria) todos os homens do mundo, que ele ali não me cabia, não era suficiente...
Fiquei frígida novamente, apática, diante suas mãos em volta de minha cintura pedindo desesperadamente
por um abraço sincero. Mas eu não pude, eu não podia, eu era incapaz naquele momento.Seus olhos marejados
de incerteza e insegurança. Eu simplismente não podia... até que veio o movimento que matou aquele momento
e me deu um sopro de consciência: ele parte daqui sem você, nada será igual se você se despedir com um mero tchau.
Um selo, rápido e certeiro, porém, pouco eficaz. Meu estômago roncou 30 vezes consecutivas e senti um gélido frio
na boca da barriga que me roubou o ar. Pouco depois estava eu lá: que fiz, que fiz eu novamente?
Havia ele me deixado com uma frase que dizia: Você ainda vai se arrepender disso, eu echi
meu peito de medo e perdi a vontade.Perdi a vontade de tudo, vim pensativa, mas logo frente ao computador eu tenho
aquela certeza: melhor que eu sofra agora, melhor que eu me aleje, melhor que eu descubra que sou mesmo uma errante
pelo mundo afora, sem eira nem beira, sem amor ou namorado. O sofrimento de outrora calou meu coração para sempre,
eu já não posso mais me entregar verdadeiramente. Meu ponto comparativo, meu vértice afetivo ainda é Rafael,
e eu prefiro que continue a ser Rafael e ter certeza que ele não é meu, logo não posso tê-lo, querê-lo nem perdê-lo.
Dói tâo menos acostumar-se com a solidão... Dói tão menos perceber que aquilo ali não precisa ser coquistado, que
aquilo ali NUNCA vai existir (até pq, inconscientemente você não o quer), que aquilo ali nunca será perdido! Dói tão
menos não amar e ser amado. Não dói tanto assim essa apatia que me toma conta, essa certeza embassada no nada, essa
real precisão de que as coisas agora parecem no controle - o quadro muda, mas toda resposta têm solução -.
Se ele quiser terminar, eu sofro por um pouco, mas melhoro.
Se ele quiser continuar, provavelmente eu continuo a me embebedar de certezas cada vez menos concretas, mas tenho
algo ou alguém para elevar meu ego quando acordar de mal humor. E uma hora ou outra a coisa complica e dão fim à elas
- basta eu não me deixar apaixonar por nada nem ninguém -
Ao contrário, hipóteses me doem:
Se eu quiser terminar, dizer que era o fim me doeria e me faria arrepender pelo resto da vida (mesmo que eu não
sentisse nada por ele, o que não é o caso)
Se eu quiser me apaixonar, me entregar (o que é muito difícil que aconteça) as coisas tendem à piorar: medo de perder,
medo de ganhar, medo de querer, medo do futuro, medo do presente e do passado.

PREFIRO ABSTER-ME DAS ÚLTIMAS DUAS, JÁ QUE PREFIRO MORRER ARREPENDIDA À MORRER INDECISA E INSEGURA.
Não senti, sinto que você também se importava com isso.
Pense no melhor pra você, não pense em mim, por favor.


(texto de 2008)

MANTRALIZEM COMIGO

Dia Após Dia
Manhã Após Manhã
A Gente Se Renova
o que eu quero mesmo é olhar para trás e dizer: eu consegui fazer o que acreditava ser impossível. controle. responsabilidade. fé e crença em mim.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Meus mestres são os aqueles que sentem o que são capazes de sentir.
Dentre os amarelinhos, eu escolhi o branco. Não porque meramente me simpatizei com ele. Ele não me olha nos olhos igual os humanos e me pede para ficar. O escolhi porque a cor de suas penas combinava com a gaiola branca de detalhes azuis que eu pretendia para ele.

(continua depois)
Evite o sufoco, o desespero. Que lágrimas sejam por verdades.

sábado, 24 de julho de 2010

Os fantasmas da meia-noite chegam e querem tomar conta de mim. A porta da mente está aberta. Mas a realidade, eu sei que está aqui fora, me esperando.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O escrúpulo da arte se perdeu quando nomearam-a por arte.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Eu, menina, com tormentas de mulher.
Eu, mulher, com tormentas de menina.

R. caminhava ao entardecer de seus dias a beira da praia. R. mulher, vestida em um longo branco, a esvoaçar no vento... Seus corpo está nitidamente em equilíbrio com sua mente, já que R. o assimila de forma natural, leva-o com leveza a passos calmos pela areia... Suas mãos estão bailando suave pelo tecido branco, que fluido, parece desnudá-la no ar... As pernas caminham sem pressa de chegar, o rosto é tranquilo, seus cabelos, negros e compridos... Também balançam com a brisa... O tempo é coberto de névoa branca, R. está respirando com toda sua vitalidade; ela pode sentir a vida entrar e sair pelo seu corpo... A mente, outrora atortoada pelas incertezas do mar, agora se pacifica na certeza das dúvidas que a levarão a diante... R. mulher se sente responsável por si, seu corpo não é mais carregado, não é mais cárcere de seus sonhos, ela está liberta dos medos.
A frente, em uma miragem desbotada de névoa clara, R. menina também caminha na areia... A menina carrega consigo um arranjo de flores coloridas, e o sorriso quieto em seu rosto encanta quem a vê. R. menina de cabelos curtos, olhos amendoados e vestes brancas, descalça no chão que pisa, leve e sem pressa de acontecer.
R. mulher se abaixa e acolhendo R. menina fita-a nos olhos. Recebe as flores que eram para ela. Flores de todas as cores que de cores tão vivas eram. Sorri como a morte.
R. mulher olha para o ramalhete colorido e em segundos, R. menina vira pó, misturando-se com a névoa branca do ar. R. menina é pó negro. Pó negro do passado.
R. mulher aproxima as rosas do peito e sente um calor lhe invadir. Um calor repleto de amor, um calor repleto de aconchego. Deita na areia e encolhe-se. Adormece.
no final das contas não adianta 'querer ter escrito algo'.
o que vale é o que eu deixei registrado.
you gotta to get there. first: because people just can really respect and see somebody who was get there. second: because your condition as human being want this. you could be nothing, but when you get what is for you, when you do what you have to do, when you get that, things become diferent. go ahead, you must get there. because the world needs your advance, world needs your progress.

domingo, 18 de julho de 2010

sometimes i feel brilhant
sometimes i feel miserable
sometimes i don't feel anything

A menina e seu monstro interior

Havia uma menina que descobrira na escuridão das dores, seu monstro interior.Bela, não tão fascinante e perfeita, mas com a forma exata do rosto a se tornar alguém bonito. Ela constantemente se fitava frente ao espelho, e mirando adentro de seus olhos, parecia procurar algo além do reflexo. Era sempre tão doloroso que dessa experiência diária, lhe restassem apenas, mais e mais perguntas. Quando R. se entranhava dentro do banheiro, quase sempre pelas noites solitárias que ela passava na companhia de si mesma, a primeira coisa que fazia era dar duas voltas na tranca da fechadura. Depois ligava o chuveiro, vaporizando o ar. Assim, desnudava-se –dando pouca atenção pro espelho- e acariciava seus braços como num abraço eterno de saudade. A esse ponto o espelho já podia vê-se totalmente embaçado, e levemente, com a mão, R. fazia um circulo para que pudesse atentamente, olhar para seu rosto no infinito. Olhos, olhando em toda direção, que na verdade só fitavam para frente, mas levavam R. a todo e qualquer lugar. Em poucos segundos, a visão já não podia distinguir pupilas e cores, tampouco as machas que a menina carregava nos olhos, mas a cabeça via algo muito além: ia revelando-se frente a si mesma, sua escuridão interior, e logo, logo, R. via apenas uma luz iluminando sua face, enquanto todo banheiro estava em breu.
Segundo após segundo seu rosto ia envelhecendo, essa é a única definição que R. saberia dar ao que via, já que a visão que confundia-se frente ao reflexo via o incodificável. R. via um monstro, um monstro interior, que nas horas de solidão se revelara a ela no centro de seu palco particular, com olhos embaçados, porém languidos de tristeza, notórios de uma dramaticidade familiar. E ali ficava, segundos agonizantes de tortura, a se espelhar no modelo mais inóspito de beleza, na mais horrenda criatura de si mesma, na mais triste visão de seu mundo. E quando, os olhos, interpretando as lágrimas da realidade dos braços que já sentiam o frio do mundo real, do banheiro que lutava contra o vapor d’água, R. olhava ao chão. E no mesmo momento, soltava a toalha que se envolvia para correr a tempo de se resgatar do tempo, da cruel monstruosidade. Adentrava o banho, de água fervente, e prostrava-se ao chão em posição fetal. Letal. Só mesmo sentir-se envolta de si, aconchegada em uma quentura infinita poderia matar o monstro que consumia seu olhar. R. tinha encontrado a fórmula de assassinar seu monstro interior. Bastava alimentar suas lembranças de calor.
Entre um cigarro e outro, a vida parece se fazer mais clara na minha mente. Sei que os amores do passado ficaram no passado e portanto, nada do que foi permanece em matéria presente. Quando vê-se crescendo, os fantasma da idealização do que um dia foi perfeito permeiam os meus dias. Quando as coisas ficam difíceis, eu vejo o que um dia foi exato retornar a minha mente de forma exata no presente, ainda que eu saiba que o molde para as peças da história já se modificou. Nada é mais igual. Eu mudei, pessoas mudaram, o tempo formou laços e modificou os rumos. O amor não é mais o mesmo. Agora o que alimenta um relacionamento não é a paixão. Não é a ânsia. Não é o medo. É algo que eu não sei nomear –ou não quero revelar para mim mesma-. A vida se revela cada dia mais complexa. Os seres humanos são misteriosos, e insistir em suas entranhas, nas mais internas lembranças, é perda de tempo. Devo me ater aos sorrisos e aos momentos em que posso estar próxima aqueles que por motivos que desconheço, me fazem bem. Ao contrário do de sempre, em um ser dotado de força auto-destrutiva, preciso compreender que afastar-me do que me faz bem, não é o que fará bem. Essa é a parte da autoflagelação, da sabotagem, daquilo que preciso deixar ir embora de mim. Sei das respostas, por agora. É melhor que eu haja correto enquanto eu mesma, não mudo as perguntas.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Sou tão distraída, que nem notei que o fósforo que acendia estava quebrando ao meio e sua chama furava meu vestido de algodão até tocar minha pele e fazer um buraco. Tão distraída que sempre que saio do banho me enxugo com qualquer uma das toalhas, reparando ser a minha apenas se nela estiver bordado meu nome.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Deus e Nietzsche estão vivos.

Ass:. EU

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Aos Narcisos

Olhar para dentro de si e descobrir-se portador da própria vida pode provocar uma verdadeira mudança no pensamento. Quando percebemos que a realidade humana consiste no viver consigo, os outros perdem o foco. Talvez não deva ser apoio para os homens os demais homens, amigos, parentes ou amantes, mas sim, ele mesmo. Quando depara-se com a condição humana de carregar além de um corpo físico que movimente-se saudavelmente mas, além, uma mente capaz de pensar o todo, brota a consciência esclarecida do 'ser solitário'. Assumir-se na condição de único responsável por si mesmo abdica dos consolos e das amarras de outréns. Há de se fortalecer por si só, e de iniciar o conhecimento da própria vida. A vida presente no homem que encara-se dono de si já não é mais mero amanhacer, ela pensa e progride no amanhã, ela encara as possibilidades diante de sua força.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sir. Friedrich Nietzsche apresenta, ironicamente, a compaixão como uma 'virtude' dos fracos. Estes nomeam-se bons, e os verdadeiros homens fortes, são vistos como decadentes.
A compaixão foi, desde minha infância, um sentimento que notava presente em mim. Se eu via um mendigo, um recriminado pela sociedade, de pronto ficava suceptível. Há de se pensar que a opção de estar jogado nas ruas é propriamente uma escolha.
Desde pequena fui a igreja, e ainda que não notasse que era a instituição cristã se apoderando de minha decisões, o sentimento de compaixão com o próximo parecia estar cada vez mais e mais entranhado em minhas atitudes. Lembro-me de uma época que me humilhava frente a pessoas que não gostavam de mim esperando um retorno positivo. Rezava e pedia que elas gostassem de mim. Rezava e pedia para que elas enxergassem a verdade. Mas que verdade era essa?
Por vezes é difícil crer no que parece estar clareando -por hora- frente a minha razão: talvez minha compaixão não seja fruto de mim. Talvez ela seja fruto do que implantaram em mim, tal como implantam chips em robôs. Sem que haja escolha, sem livre-arbítrio. É muito mais difícil ser forte a ser fraco. É muito mais difícil ascender a decair, permanecer no auge é mais complicado que gozar do prazer do desgosto.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Bruna

(Fotografia ampliada do primeiro filme -verdadeiramente- analógico da minha vida)
Por vezes escrevo no meu blog e penso: Que merda eu estou fazendo da vida?
Toda generalização condiz com a crença na irrevogável certeza das coisas. E a certeza, ao meu ver, por ordem da finitude, não é bem vinda. É certo que homens precisam de opiniões para viver, precisam de posicionamentos acerca de quaisquer coisas. Mas o geral toma partido do todo em prol da pequena parte.

Sendo assim, eu prefiro acreditar na bondade de certo homens.
A maiêutica socrática me fez pensar na gravidez do homem. Não exatamente em uma umbilical ligação com pensamento, mas com a construção de si mesmo. O homem deve ser o organismo progenitor de si mesmo. Deve dar origem à sua vida. Engravidar-se de si resultaria em um processo diário de auto-conhecimento, de exploração inconsciente, de constantes mudanças nos hábitos conscientes.O homem grávido é o homem da transformação, que a cada dia permanece e evolui em direção em ser um novo ser. A gravidez do homem consiste no 'cuidar de si', no zelo e no despertar da consciência na espera e construção do novo ‘ser’. Homens e mulheres são portadores de orgãos progenitores distintos, no entanto, compartilham da mesma condição humana: estão grávidos de si mesmos, portanto, zelosos consigo mesmos.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sentença e Recompensa


(Argentina, 2009)
One Girl
One Boy
Small City Big View
Small City Big View
Small City Big View (experiências fotográficas em movimento, 2008)

Maria Fernanda

Um homem normal

Um desses dias de análise, estava eu na sala de espera, quando um homem adentrou a sala. Sem delongas ele desejou boa noite a mim e a senhora que estava sentada no sofá marrom ao lado do meu. Ele se sentou ao meu lado, no sofá branco. Eu bebia os últimos goles d'água da garrafa que havia comprado na cafeteria do prédio, quando percebi que entre o folhear das páginas de revista, o homem estava falando sozinho. A água desceu amarga, temi pois o considerei louco, de pronto. Ele falava algo que eu não conseguia entender e minuto após minuto falava mais e mais. A senhora do sofá marrom parecia se concentrar na revista que estava tentando ler, mas era nítida no seu rosto a preocupação de estar sentada tão próxima a alguém que em um consultório de análise, pela primeira vez presente no mesmo metro quadrado, era louco. Comecei então, vagarosamente, a analisar cada movimento daquele homem. Pude notar que mesmo folheando as páginas da revista, ele estava muito atento a tudo em sua volta. Meu olhar havia de ser sutil, para não ser notado. Temi que ele tomasse alguma atitude louca, visto que assim eu o via. Ele se levantou para ir ao banheiro só para acender e apagar as luzes. Abriu uma caixinha que havia no móvel e tirou de sua carteira algum objeto para depositar lá dentro. Fiquei extremamente curiosa. Será que ele havia colocado dinheiro? Será que ele via aquela caixinha -que se assemelhava a um baú de antiguidades- um lugar seguro para guardar algo de valor?
A água já havia acabado. Tia Vera chamou a outra senhora para entrar no consultório, e ele, levantando a voz na intenção de falar com ela disse: "-Vera, você pode me dar um copo de água, por favor?" E naquele momento, a fala sanou a loucura do homem. Eu notei que tinha sede e voz ativa. Molhando a garganta ele parecia ter ficado mais calmo. Já não falou mais sozinho. Começou a conversar comigo. E falando eu já nem podia mais lembrar das luzes acesas do banheiro ou do baú de antiguidades. Ele era apenas um homem normal.
___________________________________________________

No dia seguinte me lembrei do acontecido. Eu abri a caixinha. E lá dentro estava um cartão pessoal. Com nome, telefone e e-mail.
E assim, me fortaleço pra cuidar de mim: ainda de olhos fechados, eu vivo. Fruto de minha mente, é a vida. Minha mente sou eu.
Sonhos ruins provocam em mim uma imensa dor. Penso que ainda que pareçam sonhos, são todos realidades possíveis em meio a um tumulto inconsciente. Acordo e tenho que superar a ocasião por hora ocorrida, visto que de olhos fechados, eu vivi materialmente algo que não me agradou. Há noites, exatas quatro, tenho sonhos ruins. E levanto sabendo que estes são sonhos, fruto de formações imagéticas da minha mente, mas o impacto sentimental que sinto me faz refletir sobre a verdadeira realidade dos sonhos, ou quem sabe, a verdadeira reflexão que cabe fazer sobre eles. Poderia me concentrar em decifrar cada mínimo instante que me lembro ter visto durante o sono, mas ao contrário de um sonho bom, fazer isso com esse tipo de sonho é exatamente como reviver uma lembrança dolorosa, e necessariamente, ter de superá-la. Penso que há uma forma de reverter o quadro: a realidade de olhos abertos não pode ser modificada por mim, a não ser por meio da morte, mas não é essa a saída. A forma que vejo de modificar a realidade dos meus sonhos é a de modificar a realidade inconsciente. Mas seria isso possível? Nos últimos meses percebi que, provavelmente, eu seja mais capaz de conhecer meu inconsciente a meu consciente, já que há tantos meios de dopar a consciência, e ao inconsciente, ainda que leve tempo para conhecê-lo intimamente e decifrar suas artimanhas, há a literatura e a filosofia –há um caminho racional. De fato, talvez eu saiba o que pensar sobre os sonhos. Pois, quando sonho colorido, penso exatamente como agora: algo de tal magnitude não pode ser visto apenas como um acontecimento linear, mas sim, como uma realidade possível meio ao real. Diferente da dor ocasionada pelo acontecimento factual que não se quer, o sonho ruim acontece em uma realidade exposta na minha mente, mas diferente da realidade vivida no dia-a-dia. Logo, eu posso superar a dor do não-acontecido pela fragilidade de crer no que parece ser mais real. Mas o que eu vi, ainda que de olhos fechados, parece materialmente igual e com exata nitidez a este computador que esta na minha frente nessa manhã de segunda.

domingo, 4 de julho de 2010

EU, ORGANISMO PROGENITOR DE MIM sou eu dando origem a mim mesmo
como já dizia Cazuza

"Hipocrisia, eu quero uma prá viver...!"
as vezes fica tão fácil
as vezes parece tão difícil
EU EXISTO

terça-feira, 29 de junho de 2010

"Um Ser Todo-Ouvidos"

- da série "Seres Indecifráveis", 2009

segunda-feira, 28 de junho de 2010

'Insustentável leveza do Ser'

- da série "Seres Decifráveis", 2009
Refletir ciclicamente remete à sabedoria ou à ignorância?
A fumaça do cigarro que eu fumo não vai só pra dentro de mim. Ela passa pelo nariz, pela boca e vai parar lá em cima até aonde eu não sei. Parece até uma espécie de ligação entre nós e essa coisa cósmica, infinita e fluida que vive em volta da gente.
Notavelmente me reparo humilde em relação à vida: ainda que filosofe, não sou filósofa, ainda que cozinhe, não sou cozinheira, ainda que ame, não sou amante. O que será que sou afinal se meio a tanta convenção eu não me sinto nada de tudo isso junto?
CAOS E PROGRESSO
SOU CRACK NO FUMO
Certos acontecimentos revelam em mim uma pessoa portadora de uma maldade destruidora. Não sei se capaz de destruir aos outros -sinceramente penso que sim, ainda que a curto prazo-, mas ainda mais preocupante, capaz de me contaminar em grandes proporções. Palavras sempre foram de muita valia. Ainda que prezem por atos, eu acredito no poder das palavras e no sentido sincero que todas elas apresentam. Converso e decifro as pessoas de acordo com o conheço delas: não exigo demais de quem sei que não vai muito além de sentidos no dicionário. Há uns indecifráveis, mas há os que eu sei muito bem o que querem dizer, e estes, na possibilidade de retórica eu descubro uma capacidade imensa de desconstruir. Na pior e da pior forma, nesses tão decifráveis, eu vou a fundo no ponto frágil e tenho vontade de falar o que de certo, moveria o tempo e espaço de forma irredutível. Mas por motivos não o faço em palavras. Faço em gestos. E aí me pergunto: Vale realmente mais letras a atos?
Descobertas da matéria em movimento
são consequentemente
Descobertas de mim

Realizar sobre as partes -essas, maiores que o todo; e o todo, menor que mim- é necessidade constante de viver, realidade de transformação.

Projeto Novo

[Estou dando sentido à vida]

escrito em letras, dentro de fotografias

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O feto que queria morrer

- Nascer é pior que morrer. Afirmo isso com minha maturação embrionária quase-plena...
Dizia dentro de outro ser um ser em gestação. Pelo menos sobre a morte pode-se escolher a hora e forma, sobre mim, nada tenho direito: eu não escolhi nascer.

De dentro do útero, quente e cheio de fluido, eu mal podia me movimentar.
O espaço era delimitado e ainda que eu tentasse conhecer o que era minha existência física eu não tinha espaço para experimentar. A maturidade do meu pensamento não é como aí fora: aqui dentro eu já posso ver as coisas como elas são... Ninguém é livre.

Eu podia ver com olhos de outra parte (senão do rosto) que alguma coisa não funcionava bem. A minha única vontade talvez era a de não-existir, e lá fora já me amavam tanto, sem ao menos me conhecer. “É o milagre de criação” – Aquele que duas partes escolhem por uma. Aquele que parte nenhuma escolhe. Isso é lá um milagre?

Se de quando eu fora fecundado o resultado sou eu mesmo (carne-osso), eu não hei de ser milagre. Hei eu de ser um simples eu. Um simples eu e sem-voz, um eu que nem sequer escolheu ser. Porque me apraz tanto amor? Porque mereço assim ser tanto amado?

Vejo bem aquela senhora, que está sempre sentada ali, frente aquela luz que vem de fora... Parece-me cansada da vida, das múltiplas e experiências, redundante sem novas vivências...
Sempre que acaricia a pele que envolve esse ser que me carrega (acreditando acariciar-me também), eu vejo-a sorrir de leve. Seria ser eu a possibilidade de começar de novo? Pobre Senhora! Não lhe apetece a honra de tirar a vida, mas conserva dentro a ilusão de reviver-se em mim...
Lembro-me vagamente de uma aula de biologia celular, na época em que cursava o pré-vestibular, quando o professor afirmou a todos os alunos que a primeira célula havia se formado por ordem do acaso. Naquela época não tive capacidade de pensar além da notoriedade dos fatos, mas hoje em dia me deparo com uma questão intrigante: se a forma mínima de vida de humana surgiu de repente, não seríamos todos nós frutos de um acidente?
Olhar pra cima numa noite de céu estrelado me faz pensar que a ordem das estrelas no céu parece ter sido desenhada por alguém muito capacitado. No entanto, é só parar pra pensar um pouco mais que me lembro que quando uma folha seca cai no chão, sua cadência me parece tão perfeita que eu poderia garantir esse também ser um fenômeno pré-estabelecido; mas não o é.
Talvez então, a vida realmente não tenha um sentido. Um sentido propriamente da vida. Exista talvez, um sentido criado pelo homem para se viver. Um motivo. Um porquê.
Ando navegando em minhas antigas concepções. Será que elas permanecem as mesmas? À respeito da religiosidade dos homens, eu passei por dois momentos antagônicos: um que fui totalmente a favor da religião na vida, e outro que a reprimi por completo. Tendo sabedoria que o sentido da vida é o próprio horizonte, a busca pela razão de viver, hoje me tomo de uma certeza quase incorrompível de que a religião na vida dos não-fanáticos religiosos - e sim, eles existem - faz-se incrivelmente renovadora. A religião vista aos olhos dos que buscam exemplos de solidariedade - e possivelmente -espiritualidade elevada para viver, é, dos sentidos que vejo nos dias atuais, como os mais sublimes. Numa sociedade retocada por imagens de extrema beleza estética e poder ilimitável de consumo, a religião é dos poucos, sentidos que permanecem.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A grande Árvore

"Meninos e meninas aconchegados num canto de uma grande montanha a espera dos tapetes que ainda viriam. Não havia hora marcada. Era inconstante a presença de todos ali, alguns pareciam permanecer pra sempre, enquanto outros estavam sempre partindo. Aconchegados naturalmente de forma a sentirem-se protegidos de si mesmos, se abraçavam contra seus joelhos. Eram muitos deles, sentados ao longo da montanha à espera esperançosa dos tapetes flutuantes da travessia. Nunca pareciam temer a data ou perder no olho o riso, estavam sempre postos de forma igual, igualzinha... Eram muitos e incontáveis. No leme do tapete que carregara crianças dessa parte à outra - a travessia consistia em carregá-las da montanha até a ilha, do outro lado do Oceano Azul- estava a posto o velho Major, de corcunda reconhecível e vestes negras. Chapéu tecido a mãos próprias e de forma rudimentar, sem nenhum luxo estético, apenas de forma a esconder-lhe a cabeça. De remos imaginários e de braços magros, com pelancas caindo por todos os lados, o velho Major permanecia todo o percurso de cabeça baixa, e em silêncio. De extrema competência, ele nunca havia errado o caminho."
"O colorir que emergiu de meu inconsciente aquela noite foi incrível. Era uma descoberta da minha capacidade renovada e anteriormente já apresentada de ver no peso intenso das coisas, leveza. Encontrei-me com as partes mais suaves da minha existência, e experimentei por meio de saturações berrantes, o alívio. Respirei o ar que sobrevoa as nuvens do meu olhar -por ora pesado- das coisas meramente sensíveis. Pude relatar que analiticamente desbravava dentro de mim, novamente, beleza. O oceano azul e a infância querida dos meus entes amados não representa tudo isso que eu quero lhes contar: ver cores com olhos fechados é uma experiência no mínimo, -quase- inenarrável."

terça-feira, 22 de junho de 2010

A maravilhosa condição do homem é essa capacidade de construção e formação constante que cria o ser e o já não ser mais. É essa forma que respira a pulsão por viver, atenta em criar respostas para as perguntas que diariamente se renovam. É a continuidade perpétua do processo que não cessa, o incansável motivo da razão que abriga o homem. É a mais bela moldura ou mais estranha harmonia descrita em pele e consciência, de plural complexidade; a forma humana física, o corpo.

Prelúdio - A grande Árvore

"Aquela, na outra ilha, distante porém vista a olhos nus, entre o Oceano Azul de finitude plena, de cobras e tubarões gigantes, de algas marinhas e corais de todas as cores, fica a árvore das cabeças, esperando para completar-se nunca de cabeças, sempre surgem novos espaços vazios, pois a grande Árvore é a árvore da sabedoria. Daqui avistam olhos atentos e sorrisos sedentos para se completarem por lá."

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Nada é tão correto que não se possa calar.

sábado, 19 de junho de 2010

é de certo que pessoas vão e vem.
nunca fui boa pra amizades
umas ficam no tempo,
outra, em andares
algumas, por sorte estão logo ao lado, na varanda

eu sei que por lealdade do tempo, tempo que foi
ou que era; a varanda permanece ali, do lado...

de certo e fato
eu nunca fui boa pra amizades...
mas você permanece ao lado, na varanda

165

e uma hora a gente cede de vez e se deixa iluminar
porque é essa a ordem do cosmo, essa é a ordem
da gente, a gente nasceu pra tornar luz
vir a luz sobre o choro estridente
do desconhecido e partir
na luz do que
deixamos
para


'fazer parte da minha história é fazer parte da coisa toda'
A coisa fica menos distante quando eu tento.

Uma tábua de passar...

Eu ando me perguntando das cicatrizes que a vida faz. Será que eu posso costurá-las com a linha que eu achar mais bonita num tecido florido e deixar tudo bem?

Ontem eu caminhava pelos lixos da cidade quando vi um pedaço de madeira recorberto de flores de algodão -elas estavam desbotadas do tempo- e sabia que mesmo que o cheiro ruim da comida que apodrecia naquela multidão de coisas, eu levaria o pedaço de madeira para dentro da minha casa. Eu vi nos seus rasgados e machas de queimado um laço de intimidade que me pareciam com as coisas que eu sentia; eu vi nas flores pintadas de lilás uma vontade de costurar um passarinho voando alto pronto a repousar... Levei o pedaço de madeira comigo e fui, remendando seus pedaços, me lembrando de mim. Num buraco eu pus uma foto de meus pais. No outro buraco eu não pus nada, deixei que a cicatriz ficasse exposta para todo mundo ver. E o passarinho preto, esse eu ainda estou costurando... E o costurei bem no cantinho, caso uma hora dessas ele queira voar pra bem longe daqui...
Sinto falta dos abraços apertados, dos beijos bem dados, das entregas sem fim. Sinto falta da espera sem hora, da demora sem volta, do retorno esperado de amor. Sinto falta de não temer o medo das horas, de não precisar de amanhã ou pensar de no que foi ontem. Sinto falta do que eu sei que tive mas não de outra vez. O que eu quero mesmo é encarar os dias e pisar fundo nas mudanças, rasgar o véu duro que separa quem quer amar e o ser amado. Há de haver sorriso como eu nunca sorri antes. Há de haver um amor em mim como eu nunca senti antes.
Eu lia sobre "o homem e o sexo" quando me clareou na mente a possível resposta prá vida. Na verdade, talvez, do amor que procurei em becos e a berros não me caiba encontrá-los em braços de outrém. O amor que procuro vem de dentro pra fora, de mim, vem de dentro de mim de trás de onde eu nem me lembro bem... Esse amor é um mistério enorme, que em braços quaisquer ou em beijos de ninguém -talvez- há de se desnudar. O amor que eu procuro eu devo pôr em palavras ou em algumas imagens, em sons e em histórias que ficam no canto escuro dos meus segredos... O amor que eu procuro é um abraço terno que me cale eternamente; a um passo enorme de conseguir me cegar sobre mim.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O desafio da vida é viver. É propriamente atravessar o caminho sem saber aonde chegar afim, afinal. No entanto, a mais bela proposta da vida há de ser a incerteza maior no horizonte que pretendemos alcançar. A eterna utopia que não há de cessar. A mais incrível aventura, a vida, deve ser em sua imensa complexidade vivida de modo a parecer simples, ainda que não dê-se preferência as partes, mas faça-se da vida um todo real e possível. Há espaço para renovar o amor e o trabalho, sempre. Há de haver espaço para o afago da família. Há na vida forma para todas suas surpresas, nos cabe um pouco mais de concentração.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A maior delas

A morte não me fere tanto quanto a perda de um amor. De todas incertezas que temos, o mundo só nos deixa uma certeza: nascemos predestinados a morrer. A morte é então, desde o início, fim. Não há mistério em sua finitude -há mistério no que há depois-. Viver é difícil mesmo quando se interrompe o ciclo de planos, quando se reinicia o que muitas vezes não estamos preparados para recomeçar. Se a morte é encarada como certa, perder um grande amor pode ser comparado a um grande desaparecimento, onde quem procura não sabe o desfecho final. Ainda que palavras de fato determinem por onde vão agora, separados, cada lado do que já planejou ser junto, a incerteza maior da vida é não saber o que vai ser no final de tudo, o amor.
Diálogo espontâneo entre Eu moça e moço

"-Sabe moço, eu nasci foi pra me curar..."

domingo, 13 de junho de 2010

www.weheartit.com

só um pouquinho mais de amor, por favor

sábado, 12 de junho de 2010

assim é viver o amor

espera, entrega, (humor) e dor

quarta-feira, 9 de junho de 2010

as coisas difíceis, quando se tornam ex-coisas, nem parecem que já foram motivo pra inquietação. então bastaria se projetar pra esse período de ex-coisas para que tudo que viesse a ser já de pronto fosse se tornando.
Olhei pro meu doutor e disse:
-Quanta medicina para um pobre trovador!
losing time is try cross over the limits of youself
depende da forma que você apreende as pessoas

terça-feira, 8 de junho de 2010

olha que mundo injusto:

nem se pode sofrer o luto por aquilo que mais vale a pena sofrer

nem vou poder me vestir de preto pra mim

horizontalmente

Porque assim tanto medo da queda?

(ainda que me analisem-eu continuo fascinada por sofrer de nada)
No consultório da tia Vera (note aqui o uso de 'tia', seja lá o que isso quer dizer) tem um sugador de inconsciência no teto, na sala de espera. É uma alternativa pra quem decide desistir antes mesmo de tentar: basta se posicionar abaixo e levantar os braços. Sua inconsciência vai embora num instante só, vira fumaça e pó.
não é decidir sobre ser monstro ou homem

é decidir sobre como ser homem e monstro
pois não há como escapar de ser humano

O ZELADOR

2. Tratar com zelo, com cuidado.
Escrito por Renata Henriques

De todas as formas infinitas de amor, tem-se uma certeza: tudo acaba em dor. Dor da saudade, dor da eternidade que sempre acaba se diluindo em final. Antes que acabe o mundo e tudo pareça ter sentido em nada, há de existir em o todo do mundo sentido para tudo: são nossos seres e suas relações humanas. E finito, de eterno amor, ele ali: O Zelador.
O Zelador é de todos nós, o mais secreto. Não se sabe ao certo por onde ele caminha, não se sabe ainda o que há de distinto ou peculiar. Sei que é sabido que de toda a descoberta que há travado o amor não lhe foi a mais deslumbrante.
– Há de ser a dor.
Foi com a gilete que aparava a barba que o sangue brotou de sua pele e caiu, cerca de duas ou três gotas, sobre a pia amarela do banheiro. E ali firmava, naquela imensidão de outra cor, a dor. Não havia de haver outra coisa depois do acontecido a não ser a tentativa de limpar os vestígios da dor. A cicatriz na pia amarela, aquele sangue vermelho, que rompia a continuidade da cor, já havia acontecido e portando era. Era e não havia como não ser mais. Tudo feria. Feria pia e feria pele.

O que sobra da infância

Nasci de três filhos o mais novo. O mais acariciado na cabeça. O menos desejado. Daquele que já não há o muito o que dizer ou experimentar, que o sonho já foi vivido e o segredo já foi dito. Não me senti uma criança literalmente em paixão com os pais. Sentia que a mãe passava muito a mão na minha cabeça, mais que nos outros, mas que isso era só pra fazer dos calos da mão dela mais macios. Eu comia cereal na cozinha azul enquanto ela fazia isso.
A mãe gostava muito de alisar a minha cabeça. Não a dos outros. A minha devia de ser também por causa do cabelo, que era comprido na altura das orelhas e negro, escorrido e fino, que puxei do pai. Os outros não tinham cabelo assim. Mas eu não via graça nenhuma nisso. Eu achava muito chato não sermos todos iguais e ter que ser mais alisado na cabeça que eles. Eu acho que eles nunca entenderam. Que ser mais alisado na cabeça não era ser mais amor. Era só meu cabelo e os calos da mãe. Mas meu cabelo liso fez dos irmãos uma parte, um tempo, sentirem vontade de ser diferente do que são, e eu, diferente do que sou. E aí eu já não era originalmente eu. Naturalmente feliz ou satisfeito em ser eu. Essa é a primeira vez em que me lembro de pedir para cortar os cabelos e pedir aos prantos, porque meus cabelos não faziam dos meus irmãos iguais a mim, e não faziam de mim, igual à antes. Eu queria retornar a antes daquilo. Não haveria de haver volta, certo? Lá estava a descoberta: logo acima de minha cabeça, meus lisos cabelos pretos. Logo acima de mim, mim depois de antes de mim.
Ânsia como de nunca. Sentado naquela cadeira de salão que parecia me engolir por inteiro. Sentado dentro da minha mente e esperando que meu cabelo fosse embora junto com minha nova pessoa.
- Pede pra ele cortar bem curtindo mãe, parecido com quando eu nasci. Pede pra ele cortar bem curtindo mãe, bem parecido com bem antes de quando eu nasci.
O meu problema com a náusea não é ela. Meu problema é sua ausência. Sei que pós essa náusea de qualquer coisa revigora-se, aprende-se a lidar. A náusea é o estado mais agonizante da alma. Ainda assim, ela é a responsável por toda a evolução interna humana, por todo aprendizado. Sem a náusea não há o desconforto, não há o caos que movimenta toda mudança. A náusea é a dona do amadurecer e do enriquecer dos homens.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

não por conflitos.
mas não pela paz.

Conversa Desconfiada

- Isso não é confiar.
- Me desculpe. Mas não há por onde.
"O que ficou transcendeu, é algo que eu; eu não sei te dizer. O mundo anda me ensinando que não se acalca o fim da linha. O fim da linha é um horizonte, e como tal, fica cada vez mais distante. E é assim, me distanciando, mas na ânsia por desvendar esse mistério que eu continuo dizendo: há algo em você de inexplicável em mim. Sempre que me lembro de você penso no inenarrável, no incodificável. Segredo, calado. Traído, traído."

estou com dor de cotovelo

é, talvez seja uma dor infundada
ou então, tenha muito fundamento

quarta-feira, 2 de junho de 2010

ainda que eu feche os olhos
eu consigo ver as paredes

sexta-feira, 28 de maio de 2010

o tempo é vida

vá descobrir que é isto que te move

trabalhe em algo

quinta-feira, 27 de maio de 2010

reparei que no olhar de criança não há desejo. quando se cresce, essa coisa que te faz olhar já quer te recriminar em olhar nos olhos do outro. você já não é capaz de enfrentar essa estranheza: vira o rosto e nega. a criança olha nos olhos, sem cessar. porque aquele algo a prende à atenção. e ela pára de olhar no momento em que descobre que olhar pra aquilo que a intriga, que é belo ou feio -na verdade é simplesmente fascinante- não é necessariamente querer pegá-lo nas mãos. ela pára de olhar porque ela se permite. ela pára de olhar porque repara que depois de olhar incessantemente, sem parar, não vem nada além; acaba.

frustração parece com desejo

milhões de histórias não foram contadas
meu mundo não pode ser a competição meu mundo não pode ser
- Eu vim de novo foi pra tirar esse pecado do meu corpo, sabe.
- Que pecado, minha jovem?
- Eu vim tirar essa posse, esse amor que eu amo de ardida, que dói feito pimenta descendo a goela abaixo.
- E você acredita que isso é realmente possível?
- Se eu não acreditar, então não há -de novo- motivo pra eu estar aqui.
Ouvi uma conversa de consultório -mas eu não estava em um- que uma dizia pra outra: - Nossa, a história daquela menina era demasiada tristeza! Mas como é que a gente pode saber das tristeza do outro? Não há como dimensionar outra tristeza senão por nossos olhos. A tristeza é sempre nossa. A morte dói aos vivos como não dói aos mortos. A doença dói aos que veêm como não doe aos que a esperam. Não vale a dor de sofrer por quem sofre. Vale pensar no conjunto da vida, como deve ser ser quem se é.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Não há espaço para o corpo onde ficam as palavras.
Vagueio em minha mente e posso ser o que quiser.
Aqui não podem me deter.

terça-feira, 25 de maio de 2010

eu

tenho todos que quero, sempre.
a hora que eu quiser, quando-(to).
mas eles e elas nunca me detêm aonde
querem, porque são poucos demais, fracos
demais e ruins: nenhum vê da forma que eu sei

ver
é um embananado de sonhos que ficam emergindo. aqui da minha cabeça, e vão aqui, pra ela mesma.eu faço nada com eles mesmo que eu saiba o que fazer. é que essa é uma parte medíocre de mim. a parte que têm medo dos sonhos porque ainda não soube como controlá-los. mas no fundo eu sei que sou que escolho os danadinhos. logo, sou eu que escolho o quão complexas e confusas serão as noites de sono.
são inconsequências de um menino.
é, de um garoto. pequeno demais
pra querer ir além de si mesmo.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Higor

Agora quero estar com você.

(Palavra de escoteira)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

sonho número 2 # 'alice no país das maravilhas'

e ao seguir deste, outro

como pôde minha mente encenar com tanta perfeição?

eu produzia um filme
ele coadjuvante, belo, lindo
ela, encantadora, Alice, no país das maravilhas
intocável, desfilava beleza dentro de um carrão
ele conversava comigo a tom de estranheza
em vestes de pobre que era na cena
mas que eu via como riqueza
e aí ia ser o beijo final
da loira monumental
a celar minha
angústia

era o cinema tirando de mim meu homem

mas essa não é a vida
porque a vida não é isto

sonho número 1 # 'o poder da traição'

você consegue mensurar a dor que a decepção de um homem pode te causar?

e transbordando a insistência das certezas suas
que sempre foram em incertas, você viu ali, na
hora do sonho, vislumbrar-se frente a seus
olhos verem-te o mundo ruir e estarem
de pé, ao lado, desgraçando-te
a vida, e nada fazer...
ele estava ali,
ao meu lado, vendo eu cair no chão,
mas não me deu a mão, e não daria, pois as mãos
sempre foram suas, e por mais que o rosto fosse
feito ternura, a cor de um homem só é
fazer uma outra vida solidão;
acordei meio a lágrimas de
tristezas de uma coisa
que eu escolhi viver:
essa coisa a dois
que é sozinha...
e foi aí que vi,
e vi minha mãe a me
olhar, da porta, carinhosa.
e me esperava em seu braço um afago que homem
nenhum do mundo, nem ao certo, meu pai
era capaz de me abraçar.

talvez os homems sejam todos iguais depois de enrijecer:
o segredo é tomá-los ainda moles...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

palavras retiradas em vão
coloque-as corretamente

terça-feira, 18 de maio de 2010

nenhuma literatura, por assim dita, é digna de uma bíblia

ass:. F. Niezstche
guardo então 33 minutos de depressão
saúdo meus grandes que cantam
ao pé de ouvido ainda que só
notas de dor menor

todo dia a noite
de poltrona matrona
ao lado de luminária cara
prateada, minha cara não nega
eu tenho cigarro nas mãos, a não!
-eu não queria ter visto isso agora-

são livros empilhados
são tantos nomes, tantos deles
tantas elas, tantos passados que eu já nem sei mais

mas ainda guardo 33 minutos de depressão
pra ouvir o que a melodia tem a dizer
sobre não fazer nada da vida
a não ser a dor

Sobre a Depressão

Eu gosto de músicas depressivas. Pois depressão não se caracteriza na mudança que conduz em instântaneo impacto. A depressão é como a erva daninha, um mal que consome com o tempo. Eu gosto de músicas depressivas não porque essas me fazem chorar ou pensar na vida de forma triste e imediata. Gosto de músicas depressivas porque gosto daquelas mais belas, as músicas mais bem compostas, as que me obrigam a fechar os olhos e decifrar cada sabor que se encontra em cada tom de cada órgão tocado. Gosto de músicas depressivas porque me inserem em uma roda gigante que não quero descer. Lenta e de vista bela, eu vejo a vida de forma poética quando escuto as músicas mais belas. No entanto, esqueço-me de viver o resto. Esqueço-me de viver toda uma vida.No instante em que seu ouvido sentir tocar a mais intensa nota, a mais perfeita composição, a mais harmonia melodia, estás na porta dela. A depressão vem sutilmente, nas mais bonitas formas. No mais belo tom.

Carta aos Amigos Espirituais

Eu desde sempre acreditei em vocês.
Quando pequena sentia medo e me encobria de manta até a cabeça, eu sabia que acreditava muito além de filmes de assombração. Não que eu acreditasse verdadeiramente em mal ou bem, mas eu acreditava em presenças, em fluidos espirituais, em consciências além das corpóreas. Se muito eu neguei, e por muito tempo, não foi por conta de ignorância. Neguei porque temi, tal como temi a literatura e a arte. Tal com temi amar e como temi o amor. Neguei porque por mais que anseiem por ver a luz, os cegos preferem o escuro.
E agora vem o tempo e outra vez me retoma à consciência primeira de mim. Existe o mundo e é de nós o dever da disciplina. Muitas vezes meu medo era de uma vida de privações e a preferência do corpo é sempre pelo gozo imortal. Mas eu sei que no fundo, quando mais faço proveito sem proveitar verdadeiramente, perco o foco.
Sei que vocês estão aqui para me ajudar. Ajudam-me a ver com olhos da alma.
E eu, logo eu, que muito tenho a perder esses vícios do corpo meu.
Peço e me despeço porque sei que outrora sempre virão a me buscar. Sendo de uma forma ou outra, estão aqui, perto ou longe, e de certa forma, eternamente dentro de mim.
Não tarda muito e eu volto.

De toda alma,
Renata Fernanda da Silva Henriques

Sobre a Evolução

Um ensaio breve sobre o homem

Quando há progresso no homem, há o homem. Não se deve reconhecer sobre o progresso o progresso em si, mas o homem em si, já que o homem é o progresso. O regresso, retrocesso, é evolução, logo, ainda que não avanço, é evolutivo. Logo, o homem deve reconhecer o progresso enquanto si próprio, não somente enquanto processo evolutivo. Já o anacronismo não pode ser retrato do homem. Evolutivamente, ainda que sob controvérsias – e daí surge a tomada de consciência que observa o retrocesso como parte da evolução humana- o homem é processo de avanços e regressos. No progresso há o homem próprio, dono de suas mudanças, ativo em seus pensamentos, vivo em si. No retrocesso há o homem em processo de evolução.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

vê se tira a poesia dessa vida abandonada, Renata
a razão é que vai abraçar mais quente o seu mundo
às vezes eu queria me sentir menos densa

Sobre Opiniões

Um ensaio breve sobre as certezas dos grandes

Quando opiniões não são certezas, o homem torna-se nulo. Não que este seja um mundo de certezas completas, mas não podem as opiniões (aquelas idéias sobre determinadas coisas) absterem-se da confiança no que são. É que quando o homem não tem certezas sobre as coisas que pensa, ele se perde nas múltiplas possibilidades de ser e fica flutuando no vazio.
Da filosofia eu não tiro proveito de tudo. Muito do que dizem – e já ouvi que deveria viver no vazio, ou crer em nada – eu escutei por engano. Nem tudo que é comida eu como.
O homem precisa, de fato, saber o que é. E aí muito me admira que um jovem rapaz de vinte e cinco anos possa crer mais no que viu e experimentou do que noutros o disseram sentir nos livros. As opiniões precisam de certo, um norte, um pulso firme, um punho forte.
É preciso livrar-se da infância que nos subestimou aos parentes e trilhar uma racionalidade pensante, uma cabeça de certezas sobre as coisas que pensa.
Não faço aqui apologia à certeza de todas as coisas, pois tampouco cabe a um homem pensar todas as coisas do mundo. Nas opiniões vastas de que se pode ter, tange na beleza do ser afirmar-se nas opiniões à respeito de nossas experiências vividas, das coisas nossas; criadas por nossa capacidade. A demanda é grande. Mas nos grandes homens há confiança no desafio de desnudar o viver.

A problemática da guerra

Um ensaio breve por Renata Henriques

A problemática da guerra, é por si, a coisa em si. Não seu entorno, as conseqüências e componentes. A problemática da guerra é a causa, a origem, a coisa em si propriamente intacta. A guerra é movida não por fatores externos ou internos de sua aparência, a guerra é movida por sua necessidade. Isto é; existe guerra ainda que não haja gente para guerrear, existe guerra ainda que não haja cenário. A guerra é uma força motivadora e destruidora de si própria, um mecanismo destruidor e criador do próprio estímulo.
Pequena ou larga escala, macro ou micro sistema, a guerra uma vez ocasionada tende a perder controle. Mas de que controle estamos falando? Este controle vem de uma noção que sustenta-se na racionalidade. Pois então, a guerra foge a razão humana. Portanto, a busca de sua origem e o cessar de seu comparecimento é tão complexo. Deve-se, meio a toda vulnerabilidade do ser -diante a força que a guerra exerce sobre corpo e mente humanas- ir a origem, ir à ela.
O homem, ainda que contrário à guerra, deve 'guerrear' com suas faculdades racionais para enfim, encontrá-la. Daí surge à problemática da guerra: ela se firma num sistema cíclico, fechado, que prende a si quem pretenda com ela. É a guerra tal como um grande redemoinho, formado meio ao mar, que suga e mantêm girando por ele todas as coisas que de certa forma, se dispuseram à sua atração.

Sobre as Coisas

Um ensaio primeiro sobre coisas pensadas de mim

Meu irmão me ensinou que filosofia não é a única versão da vida. É apenas um pedaço dela. Até que ponto amores me ensinaram sobre o amor? Muito eu aprendi sozinha. Não há forma de progresso senão após o caos solitário do que vive angustiado, tal como o retorno de um gato à sua moradia primeira.
Filosofia e amor não são a vida. Tal como a comida também não deve ser. Será mesmo?Me questiono devido ao domínio que sinto presente da fome na minha vida. E será que isto é fome ou vontade de comer? Tem horas que a coisa cresce tanto que posso jurar que se apodera do meu universo inteiro. Mas também, ainda que eu me sinta fraca por vezes, sei de certo que a fome e a comida não são a vida.
Mas será então que o conhecimento é a vida? Ou a sabedoria do conhecimento? Essa forma de decifrar palavras em resoluções, argumentações, certezas? Já que de pronto a alguma problemática de fim teremos sempre, ainda que de pouca valia, algum conhecimento? Ou de tanto, sabedoria?
A vida é uma constante de muitas coisas. Não é só o fim, nem o começo. A vida não pode, portanto, ater-se à conclusão intencional (ou acidental) das coisas. A vida é algo que percorre-se, diante um tempo, dispondo-se em corpo. Corpo corpóreo ou espiritual (afinal, pensamentos não são corpóreos, no então são coisas).

quinta-feira, 13 de maio de 2010

e ela disse que o sexo a aporderava como um bicho
e eu ando reparando que é assim que jaz a palavra em mim
vai comendo minha vontade de dominar e quando a-noto, morri
e demoro pra te escrever essa carta de amor
porque nem sei mais como escrevem-se
essas coisas de receber e de dar
a coisa é outra coisa aqui
entre nós ou entre isso
essa coisa entre-
entretendo
Comprei um livro.

Bukowski, Textos autobiográficos
________________________________

e eu começo
a sentir uma coceira;
e já me chamam de prosa
CESSA O TEMPO DE IMAGENS
E VEM O LAPSO DA PALAVRA

sim?

Já diria Senhor Rafael

-Olha eu não sei não viu!?
Eu vou te dizer...
imagina uma menina que entra numa loja de uma dona indiana, com um terceiro olho -imaginário- colado no meio da testa. a loja tem um cheiro -imaginário- embolorado e a dona tem um cheiro -imaginário- de riqueza. tem um baú de promoções que anuncia vestidos longos de tecidos velhos -reais- que estão quase se esfarelando. a menina prova e no provador a roupa rasga. rasga porque a menina está gorda. rasga porque a dona é perversa, maldona e mentirosa e vende barato apenas os trapos. imagina agora que a menina sai de finino da loja e não paga pelo vestido esfarelado (esse o que rasgou.). imagina agora que a menina não se sente culpada. e a dona está indignada. ou na verdade, a dona está reflexiva, ou arrependida, ou retraída pela própria falsidade. imagina que essa menina sou eu. isso pode ser real -imaginário-.
eu sei quando você tá salgado ...
é só tomar um copo d'água
seguido à te comer
e ver se ela tem
gosto doce
porque o tempo não tarda, ele passa
e quando se vê, já não é mais
se foi
é

quarta-feira, 12 de maio de 2010

ainda bem que eu não gasto muito tempo
vendo a ida e as vindas desses outros.
eu estou mesmo é computando
as minhas horas, os meus
amigos e o quanto
eu posso de
amor

terça-feira, 11 de maio de 2010

'e as coisas originam as coisas mesmas'

segunda-feira, 10 de maio de 2010

perseverar é o que os céticos costumam denominar "insistir"

sábado, 8 de maio de 2010

quero ver só se dá um trosso no mundo
e eu perco o jeitinho pra rimar a mais b

164

eu acho a poesia um saco.
parece coisa pra fraco
que tem preguiça de
pôr acento para a
própria bunda
cansada de
palavras
e não gosto do gosto do tabaco
eu gosto só do gosto do cinema
“Há um tempo que ando vivendo postumamente. Uma espécie de morte se apropriou do meu corpo, já que de respostas eu não atendo. É como se acordasse ao som do violino que toca em meu velório – em verdade não há nem esta poesia na minha cabeça, ando oca dessas emoções dolorosas-, acordo como se meu corpo estivesse enterrado vinte anos abaixo hoje. É como se não houvesse saída no passado nem emoção na espera do presente ou ansia do futuro. Eu e as memórias póstumas de mim.”

e só

'eu acredito nisto aqui'
'das vezes que me senti belo eu me senti desconfortável
então eu preferia me enclausurar na feiúra que me
enforcava no meu mundo, que me afastava
dos homens. nas vezes que me senti,
me senti belo e o conforto
reinava entre meus pés,
bem debaixo do céu
e acima do chão'

(fotografia de Juliana Machado, 2010)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

'Sangrando as Margens'

(fotografia de 2010)

'por dentro eu fico preto'

isso é só alguém com muito medo
medo de se perder
de esquecer
ficando
preto

não se engane de pensar
que é arte. isso é só
bonito, mas é feio
se você quiser
ver mais
perto

e o reflexo está mais denso
do que parece, a resposta
vai lá fundo donde
ela se expressa, mas talvez
isso já não te interessa mais

(fotografia de Cinthya Bretz, 2008)

163

before i was young
now i don't know anymore

14 años

por Manoela Chiabai

"O olhar de uma gigante pequenina sob uma pequena gigante"

7 de maio de 2010

Mãe,

É com grande dor que eu sinto pelos acontecimentos recentes. Sei que há momentos que você olha pra mim e não vê ali a menininha de cabelo negros com um sorriso que parecia dominar o mundo. Agora estou com os cabelos tão pequenos quanto eu tinha naquela época. Eu era tão pequena, tão indefesa, tão em seus braços e nos braços de Rafael (meu irmão).Se não fosse do seu colo quente de mãe amada eu não sei o que seria de mim neste mundo grande. Foi você quem me deu a graça de conhecer a vida, foi você quem realmente adotou minha vida, no sentido grande da palavra, que me guiou os primeiros passos, que me ensinou a acariciar os outros e não a dar tapas; foi você quem me ensinou a me alimentar.
Foi papai quem me ensinou a ler os números, os livros, os sonhos, a minha mente...
Graças a seu coração de mãe eu pude ter um lugar bom no mundo. Um lugar grande. Uma linda família, amor, uma cama aquecida e carinho a minha espera.
Talvez eu esteja crescendo demais agora, crescendo demais e percebendo que, agora, eu devo deixar esse laço pra trás. Ou ao menos, afrouxar essa corda. Agora, mãe, eu tenho que saber que eu já não preciso tanto dos outros.
Agora, eu já posso caminhar a próprias pernas, já posso comer o que bem decidir e dar carinho a quem minhas mãos decidirem. É difícil o caminho. Parece que decidir sozinha é em parte, ficar sozinha pra sempre. E no fundo, o que eu menos quero é te deixar ir embora da minha vida; tamanho meu amor por você. Esse meu ódio grande, é talvez, mãe, pra tentar te fazer ficar com tanta raiva de mim que me mandes ir embora, embora pra nunca mais voltar. E assim eu possa, na marra, me livrar de você, a coisa mais linda e especial da minha vida. O outro que me deu a vida, esse é você. Você é tudo que eu tenho. Não sou só tua filha mãe, sou tua mãe também. Quero te dar essa vida de asas livres pra voar longe que em algum momento se perdeu dentro de você. Quero te ensinar a caminhar e alimentar a sua alma, doce e pura como a de ninguém.
De todos esses amores que vão e vem, só um permanece e sempre permanecerá vivo e eterna chama acesa em mim; de agradecimento e paixão: és tu mãe, coisa linda que ilumina meus dias, mesmo com seu olhar tristonho que não sei desvendar.
Esses dias sonhei que largávamos tudo e viajávamos juntas, sozinhas, pra conhecer o mundo grande dos homens, das palavras, da vida... Eu vi tantos risos ali mãe, como de duas amigas que já fomos em algum outro momento das nossas vidas. Saiba que para todas as mulheres nunca haverá nenhum espaço como há o seu lugar. Você é meu segredo e meu mistério. Você é tudo que eu mais amo.

Me perdoe pela dor causada nos últimos dias e pela irritação que ando sentindo, acho que é por perceber que hora ou outra, tenho que ir pra longe de você...

Te amo demais para entender.

Renata

162

eu não penso o ser
eu só penso renata

'A Espera'



'...a espera é, em sintese, o próprio amor...'

161

isso que eu faço não é arte
eu só brinco de expor
minha cara pra não
me esquecer de
mins

160

quando posam pra mim eu não sei muito o que dizer
mas quando ponho minha cara a mostra eu sei
bem do que eu queria ter dito

Um grande Circo

pra mim a arte é uma grande brincadeira.
um grande circo montado a minha volta
pra me entreter com os menos
entrertidos consigos
mismos

- um cigarro na boca pra ficar mais bonito -

segunda-feira, 3 de maio de 2010

- SONHAR É SENTIR EM INCONSCIÊNCIA -

você também compreende a intensidade disto?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

'O Repúdio'












('O Repúdio' é um tabalho desenvolvido em 2010)
'Ao nascer, o corte.
Do corte toma-se conhecimento da rejeição, a ruptura, o rompimento, do que antes parecia intacto.
A experiência fere o homem, sem ela o homem não é nada.
Sob um calor mais quente que o normal, um banho gelado limpa e tenta esclarecer a natureza dos repúdios. Tudo faz sentido: alguns auto-retratos e eu me deparo com uma nova compreensão do mundo.
“O auto-retrato é minha essência artística em plenitude de verdade.”
Aqui eu traço um paralelo imaginário-imagético, entre junho de 1989 (mês e ano de seu nascimento) e os acontecimentos do verão de 2010.'

'Pai e Mãe'


(fotografias de 2010) 'E vendo assim, ambos olhares a procurar o mesmo norte, eu me emociono ao olhar o álbum de casamento de meus pais. As fotos estão amareladas, e as roupas são bem diferentes. A pele também está bem diferente. Os anos estão marcados aqui, em rostos, roupas e fotografias. Mas o foco, e o olhar, permanecem os mesmos. O Tempo Voa, feito passarinho...'

7 to juny to 1989

so, looking to the eyes to my 'new Mammy',
I asked myself, deep inside:

Why I?

'La Puerta'

(fotografia de 2008)

'Vidro de Açúcar'



(fotografias de 2010) 'Imagens são, em sumo, açúcar. Derretem-se feito fio doce, quebradiças com o tempo, e antes que a memória venha a falhar, imagens já se transformaram noutras. Eu sou vidro de açúcar. Sumindo e a esfalecer a cada olhar.'

terça-feira, 20 de abril de 2010

(Fotografia de 2010)

Essa é uma fotografia-memória-momento por Filipe Gomes - 'Meus pés debaixo d'água azul'

(2010) "As vezes, uma imagem é tudo o que se tem a dizer sobre uns e outros. É a síntese de uma convivência, é o resultado, a resultante. Meus pés se movem na água com tal intimidade que só Filipe saberia resgatar. Grande amigo. Sinto saudades do Verão."

'all white'

(2010) "Quando estava tudo pintado de branco, eu dei um banho de vermelho para falar a verdade sobre mim: não sei se era de sangue ou paixão, mas eu estava explodindo em cor..."