sábado, 24 de julho de 2010

Os fantasmas da meia-noite chegam e querem tomar conta de mim. A porta da mente está aberta. Mas a realidade, eu sei que está aqui fora, me esperando.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O escrúpulo da arte se perdeu quando nomearam-a por arte.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Eu, menina, com tormentas de mulher.
Eu, mulher, com tormentas de menina.

R. caminhava ao entardecer de seus dias a beira da praia. R. mulher, vestida em um longo branco, a esvoaçar no vento... Seus corpo está nitidamente em equilíbrio com sua mente, já que R. o assimila de forma natural, leva-o com leveza a passos calmos pela areia... Suas mãos estão bailando suave pelo tecido branco, que fluido, parece desnudá-la no ar... As pernas caminham sem pressa de chegar, o rosto é tranquilo, seus cabelos, negros e compridos... Também balançam com a brisa... O tempo é coberto de névoa branca, R. está respirando com toda sua vitalidade; ela pode sentir a vida entrar e sair pelo seu corpo... A mente, outrora atortoada pelas incertezas do mar, agora se pacifica na certeza das dúvidas que a levarão a diante... R. mulher se sente responsável por si, seu corpo não é mais carregado, não é mais cárcere de seus sonhos, ela está liberta dos medos.
A frente, em uma miragem desbotada de névoa clara, R. menina também caminha na areia... A menina carrega consigo um arranjo de flores coloridas, e o sorriso quieto em seu rosto encanta quem a vê. R. menina de cabelos curtos, olhos amendoados e vestes brancas, descalça no chão que pisa, leve e sem pressa de acontecer.
R. mulher se abaixa e acolhendo R. menina fita-a nos olhos. Recebe as flores que eram para ela. Flores de todas as cores que de cores tão vivas eram. Sorri como a morte.
R. mulher olha para o ramalhete colorido e em segundos, R. menina vira pó, misturando-se com a névoa branca do ar. R. menina é pó negro. Pó negro do passado.
R. mulher aproxima as rosas do peito e sente um calor lhe invadir. Um calor repleto de amor, um calor repleto de aconchego. Deita na areia e encolhe-se. Adormece.
no final das contas não adianta 'querer ter escrito algo'.
o que vale é o que eu deixei registrado.
you gotta to get there. first: because people just can really respect and see somebody who was get there. second: because your condition as human being want this. you could be nothing, but when you get what is for you, when you do what you have to do, when you get that, things become diferent. go ahead, you must get there. because the world needs your advance, world needs your progress.

domingo, 18 de julho de 2010

sometimes i feel brilhant
sometimes i feel miserable
sometimes i don't feel anything

A menina e seu monstro interior

Havia uma menina que descobrira na escuridão das dores, seu monstro interior.Bela, não tão fascinante e perfeita, mas com a forma exata do rosto a se tornar alguém bonito. Ela constantemente se fitava frente ao espelho, e mirando adentro de seus olhos, parecia procurar algo além do reflexo. Era sempre tão doloroso que dessa experiência diária, lhe restassem apenas, mais e mais perguntas. Quando R. se entranhava dentro do banheiro, quase sempre pelas noites solitárias que ela passava na companhia de si mesma, a primeira coisa que fazia era dar duas voltas na tranca da fechadura. Depois ligava o chuveiro, vaporizando o ar. Assim, desnudava-se –dando pouca atenção pro espelho- e acariciava seus braços como num abraço eterno de saudade. A esse ponto o espelho já podia vê-se totalmente embaçado, e levemente, com a mão, R. fazia um circulo para que pudesse atentamente, olhar para seu rosto no infinito. Olhos, olhando em toda direção, que na verdade só fitavam para frente, mas levavam R. a todo e qualquer lugar. Em poucos segundos, a visão já não podia distinguir pupilas e cores, tampouco as machas que a menina carregava nos olhos, mas a cabeça via algo muito além: ia revelando-se frente a si mesma, sua escuridão interior, e logo, logo, R. via apenas uma luz iluminando sua face, enquanto todo banheiro estava em breu.
Segundo após segundo seu rosto ia envelhecendo, essa é a única definição que R. saberia dar ao que via, já que a visão que confundia-se frente ao reflexo via o incodificável. R. via um monstro, um monstro interior, que nas horas de solidão se revelara a ela no centro de seu palco particular, com olhos embaçados, porém languidos de tristeza, notórios de uma dramaticidade familiar. E ali ficava, segundos agonizantes de tortura, a se espelhar no modelo mais inóspito de beleza, na mais horrenda criatura de si mesma, na mais triste visão de seu mundo. E quando, os olhos, interpretando as lágrimas da realidade dos braços que já sentiam o frio do mundo real, do banheiro que lutava contra o vapor d’água, R. olhava ao chão. E no mesmo momento, soltava a toalha que se envolvia para correr a tempo de se resgatar do tempo, da cruel monstruosidade. Adentrava o banho, de água fervente, e prostrava-se ao chão em posição fetal. Letal. Só mesmo sentir-se envolta de si, aconchegada em uma quentura infinita poderia matar o monstro que consumia seu olhar. R. tinha encontrado a fórmula de assassinar seu monstro interior. Bastava alimentar suas lembranças de calor.
Entre um cigarro e outro, a vida parece se fazer mais clara na minha mente. Sei que os amores do passado ficaram no passado e portanto, nada do que foi permanece em matéria presente. Quando vê-se crescendo, os fantasma da idealização do que um dia foi perfeito permeiam os meus dias. Quando as coisas ficam difíceis, eu vejo o que um dia foi exato retornar a minha mente de forma exata no presente, ainda que eu saiba que o molde para as peças da história já se modificou. Nada é mais igual. Eu mudei, pessoas mudaram, o tempo formou laços e modificou os rumos. O amor não é mais o mesmo. Agora o que alimenta um relacionamento não é a paixão. Não é a ânsia. Não é o medo. É algo que eu não sei nomear –ou não quero revelar para mim mesma-. A vida se revela cada dia mais complexa. Os seres humanos são misteriosos, e insistir em suas entranhas, nas mais internas lembranças, é perda de tempo. Devo me ater aos sorrisos e aos momentos em que posso estar próxima aqueles que por motivos que desconheço, me fazem bem. Ao contrário do de sempre, em um ser dotado de força auto-destrutiva, preciso compreender que afastar-me do que me faz bem, não é o que fará bem. Essa é a parte da autoflagelação, da sabotagem, daquilo que preciso deixar ir embora de mim. Sei das respostas, por agora. É melhor que eu haja correto enquanto eu mesma, não mudo as perguntas.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Sou tão distraída, que nem notei que o fósforo que acendia estava quebrando ao meio e sua chama furava meu vestido de algodão até tocar minha pele e fazer um buraco. Tão distraída que sempre que saio do banho me enxugo com qualquer uma das toalhas, reparando ser a minha apenas se nela estiver bordado meu nome.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Deus e Nietzsche estão vivos.

Ass:. EU

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Aos Narcisos

Olhar para dentro de si e descobrir-se portador da própria vida pode provocar uma verdadeira mudança no pensamento. Quando percebemos que a realidade humana consiste no viver consigo, os outros perdem o foco. Talvez não deva ser apoio para os homens os demais homens, amigos, parentes ou amantes, mas sim, ele mesmo. Quando depara-se com a condição humana de carregar além de um corpo físico que movimente-se saudavelmente mas, além, uma mente capaz de pensar o todo, brota a consciência esclarecida do 'ser solitário'. Assumir-se na condição de único responsável por si mesmo abdica dos consolos e das amarras de outréns. Há de se fortalecer por si só, e de iniciar o conhecimento da própria vida. A vida presente no homem que encara-se dono de si já não é mais mero amanhacer, ela pensa e progride no amanhã, ela encara as possibilidades diante de sua força.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sir. Friedrich Nietzsche apresenta, ironicamente, a compaixão como uma 'virtude' dos fracos. Estes nomeam-se bons, e os verdadeiros homens fortes, são vistos como decadentes.
A compaixão foi, desde minha infância, um sentimento que notava presente em mim. Se eu via um mendigo, um recriminado pela sociedade, de pronto ficava suceptível. Há de se pensar que a opção de estar jogado nas ruas é propriamente uma escolha.
Desde pequena fui a igreja, e ainda que não notasse que era a instituição cristã se apoderando de minha decisões, o sentimento de compaixão com o próximo parecia estar cada vez mais e mais entranhado em minhas atitudes. Lembro-me de uma época que me humilhava frente a pessoas que não gostavam de mim esperando um retorno positivo. Rezava e pedia que elas gostassem de mim. Rezava e pedia para que elas enxergassem a verdade. Mas que verdade era essa?
Por vezes é difícil crer no que parece estar clareando -por hora- frente a minha razão: talvez minha compaixão não seja fruto de mim. Talvez ela seja fruto do que implantaram em mim, tal como implantam chips em robôs. Sem que haja escolha, sem livre-arbítrio. É muito mais difícil ser forte a ser fraco. É muito mais difícil ascender a decair, permanecer no auge é mais complicado que gozar do prazer do desgosto.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Bruna

(Fotografia ampliada do primeiro filme -verdadeiramente- analógico da minha vida)
Por vezes escrevo no meu blog e penso: Que merda eu estou fazendo da vida?
Toda generalização condiz com a crença na irrevogável certeza das coisas. E a certeza, ao meu ver, por ordem da finitude, não é bem vinda. É certo que homens precisam de opiniões para viver, precisam de posicionamentos acerca de quaisquer coisas. Mas o geral toma partido do todo em prol da pequena parte.

Sendo assim, eu prefiro acreditar na bondade de certo homens.
A maiêutica socrática me fez pensar na gravidez do homem. Não exatamente em uma umbilical ligação com pensamento, mas com a construção de si mesmo. O homem deve ser o organismo progenitor de si mesmo. Deve dar origem à sua vida. Engravidar-se de si resultaria em um processo diário de auto-conhecimento, de exploração inconsciente, de constantes mudanças nos hábitos conscientes.O homem grávido é o homem da transformação, que a cada dia permanece e evolui em direção em ser um novo ser. A gravidez do homem consiste no 'cuidar de si', no zelo e no despertar da consciência na espera e construção do novo ‘ser’. Homens e mulheres são portadores de orgãos progenitores distintos, no entanto, compartilham da mesma condição humana: estão grávidos de si mesmos, portanto, zelosos consigo mesmos.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sentença e Recompensa


(Argentina, 2009)
One Girl
One Boy
Small City Big View
Small City Big View
Small City Big View (experiências fotográficas em movimento, 2008)

Maria Fernanda

Um homem normal

Um desses dias de análise, estava eu na sala de espera, quando um homem adentrou a sala. Sem delongas ele desejou boa noite a mim e a senhora que estava sentada no sofá marrom ao lado do meu. Ele se sentou ao meu lado, no sofá branco. Eu bebia os últimos goles d'água da garrafa que havia comprado na cafeteria do prédio, quando percebi que entre o folhear das páginas de revista, o homem estava falando sozinho. A água desceu amarga, temi pois o considerei louco, de pronto. Ele falava algo que eu não conseguia entender e minuto após minuto falava mais e mais. A senhora do sofá marrom parecia se concentrar na revista que estava tentando ler, mas era nítida no seu rosto a preocupação de estar sentada tão próxima a alguém que em um consultório de análise, pela primeira vez presente no mesmo metro quadrado, era louco. Comecei então, vagarosamente, a analisar cada movimento daquele homem. Pude notar que mesmo folheando as páginas da revista, ele estava muito atento a tudo em sua volta. Meu olhar havia de ser sutil, para não ser notado. Temi que ele tomasse alguma atitude louca, visto que assim eu o via. Ele se levantou para ir ao banheiro só para acender e apagar as luzes. Abriu uma caixinha que havia no móvel e tirou de sua carteira algum objeto para depositar lá dentro. Fiquei extremamente curiosa. Será que ele havia colocado dinheiro? Será que ele via aquela caixinha -que se assemelhava a um baú de antiguidades- um lugar seguro para guardar algo de valor?
A água já havia acabado. Tia Vera chamou a outra senhora para entrar no consultório, e ele, levantando a voz na intenção de falar com ela disse: "-Vera, você pode me dar um copo de água, por favor?" E naquele momento, a fala sanou a loucura do homem. Eu notei que tinha sede e voz ativa. Molhando a garganta ele parecia ter ficado mais calmo. Já não falou mais sozinho. Começou a conversar comigo. E falando eu já nem podia mais lembrar das luzes acesas do banheiro ou do baú de antiguidades. Ele era apenas um homem normal.
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No dia seguinte me lembrei do acontecido. Eu abri a caixinha. E lá dentro estava um cartão pessoal. Com nome, telefone e e-mail.
E assim, me fortaleço pra cuidar de mim: ainda de olhos fechados, eu vivo. Fruto de minha mente, é a vida. Minha mente sou eu.
Sonhos ruins provocam em mim uma imensa dor. Penso que ainda que pareçam sonhos, são todos realidades possíveis em meio a um tumulto inconsciente. Acordo e tenho que superar a ocasião por hora ocorrida, visto que de olhos fechados, eu vivi materialmente algo que não me agradou. Há noites, exatas quatro, tenho sonhos ruins. E levanto sabendo que estes são sonhos, fruto de formações imagéticas da minha mente, mas o impacto sentimental que sinto me faz refletir sobre a verdadeira realidade dos sonhos, ou quem sabe, a verdadeira reflexão que cabe fazer sobre eles. Poderia me concentrar em decifrar cada mínimo instante que me lembro ter visto durante o sono, mas ao contrário de um sonho bom, fazer isso com esse tipo de sonho é exatamente como reviver uma lembrança dolorosa, e necessariamente, ter de superá-la. Penso que há uma forma de reverter o quadro: a realidade de olhos abertos não pode ser modificada por mim, a não ser por meio da morte, mas não é essa a saída. A forma que vejo de modificar a realidade dos meus sonhos é a de modificar a realidade inconsciente. Mas seria isso possível? Nos últimos meses percebi que, provavelmente, eu seja mais capaz de conhecer meu inconsciente a meu consciente, já que há tantos meios de dopar a consciência, e ao inconsciente, ainda que leve tempo para conhecê-lo intimamente e decifrar suas artimanhas, há a literatura e a filosofia –há um caminho racional. De fato, talvez eu saiba o que pensar sobre os sonhos. Pois, quando sonho colorido, penso exatamente como agora: algo de tal magnitude não pode ser visto apenas como um acontecimento linear, mas sim, como uma realidade possível meio ao real. Diferente da dor ocasionada pelo acontecimento factual que não se quer, o sonho ruim acontece em uma realidade exposta na minha mente, mas diferente da realidade vivida no dia-a-dia. Logo, eu posso superar a dor do não-acontecido pela fragilidade de crer no que parece ser mais real. Mas o que eu vi, ainda que de olhos fechados, parece materialmente igual e com exata nitidez a este computador que esta na minha frente nessa manhã de segunda.

domingo, 4 de julho de 2010

EU, ORGANISMO PROGENITOR DE MIM sou eu dando origem a mim mesmo
como já dizia Cazuza

"Hipocrisia, eu quero uma prá viver...!"
as vezes fica tão fácil
as vezes parece tão difícil
EU EXISTO