segunda-feira, 19 de julho de 2010

Eu, menina, com tormentas de mulher.
Eu, mulher, com tormentas de menina.

R. caminhava ao entardecer de seus dias a beira da praia. R. mulher, vestida em um longo branco, a esvoaçar no vento... Seus corpo está nitidamente em equilíbrio com sua mente, já que R. o assimila de forma natural, leva-o com leveza a passos calmos pela areia... Suas mãos estão bailando suave pelo tecido branco, que fluido, parece desnudá-la no ar... As pernas caminham sem pressa de chegar, o rosto é tranquilo, seus cabelos, negros e compridos... Também balançam com a brisa... O tempo é coberto de névoa branca, R. está respirando com toda sua vitalidade; ela pode sentir a vida entrar e sair pelo seu corpo... A mente, outrora atortoada pelas incertezas do mar, agora se pacifica na certeza das dúvidas que a levarão a diante... R. mulher se sente responsável por si, seu corpo não é mais carregado, não é mais cárcere de seus sonhos, ela está liberta dos medos.
A frente, em uma miragem desbotada de névoa clara, R. menina também caminha na areia... A menina carrega consigo um arranjo de flores coloridas, e o sorriso quieto em seu rosto encanta quem a vê. R. menina de cabelos curtos, olhos amendoados e vestes brancas, descalça no chão que pisa, leve e sem pressa de acontecer.
R. mulher se abaixa e acolhendo R. menina fita-a nos olhos. Recebe as flores que eram para ela. Flores de todas as cores que de cores tão vivas eram. Sorri como a morte.
R. mulher olha para o ramalhete colorido e em segundos, R. menina vira pó, misturando-se com a névoa branca do ar. R. menina é pó negro. Pó negro do passado.
R. mulher aproxima as rosas do peito e sente um calor lhe invadir. Um calor repleto de amor, um calor repleto de aconchego. Deita na areia e encolhe-se. Adormece.

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