quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

128

se precipite no amor
mas não se sufoque
na dor de estar só
de parecer estar
deixado; de lado
isolado; deitado
sozinho e só

na dor o que te sufoca não é a dor do amor
'se te ama espera a cama e chora a espera'
o que te dói é sentir fome, o que te dói é
a falta que faz a carne que homem come

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

127

a mais incrível sensação
é pegar o azul ftalocianina
misturar com o vermelho de
cádmio, o sépia, o amarelo escuro
e o carmim e colocar em prática tudo
que eu não sei praticar de outra forma
se não pensando nas coisas mais sublimes

da alma

a mais incrível sensação é o processo
eu não termino no final
eu termino a cada
pincelada dada

126

tenho em mãos um controle remoto que diz:
vá, vá, vá, vá, vá, vá, vá, vá, vá, vá, vá, e vá!
e continue em frente, seguinte e indo, Renata;
vá indo, que uma hora você entende o porquê

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

125

agora,
já não mais
como anterior
eu não gosto da
escuridão; gosto da
luz entrando pela persiana
do quarto, iluminando os espelhos
e refletindo de novo, mas o novo, mim
meu equilíbrio sou eu.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

assinado:. Renata Henriques

domingo, 27 de dezembro de 2009

124

'amorecetuce'
é o tal tempo
da vida que é
intensidade, é
vida pra viver
de se respirar
amor e dormir
abraços dados

Renata

escutei chamarem meu nome.
creio que foram três vezes:
Renata, Renata e Renata

o último, eu podia ouvir;
certamente vindo da
tua voz, mas ainda
a dois soava como
o grito distante
de algo que
quer me
levar

sábado, 26 de dezembro de 2009

Canções do Oceano #2

'waltz solo'

o som romanesco da valsa francesa
e eu danço sob as vestes do vestido, já que
sinto-o despido; meu corpo se despedia de nós dois...
desconectados, complexos, só estávamos conversando;
sobre o ar, sobre repirar e possivelmente amar
e ainda que nos houvesse o mar, o som que
ouvia meu ouvido, não ouvia o teu -ou
via-se ruído, indecifrado, sofrido-
o silêncio cabe melhor à sós
e ainda que nossos braços
não terminem em nós,
valsa que dance a sós
eu posso sentir eles
embaraçando,
embalando,
enrolando,
os nossos
braços

123

narre tudo,
narre nada
e não narre
a narrativa
só existe é
pra calar o
silêncio do
que não se
pode tocar.

singelo desperdício

acabei de me ocupar
acaba por me ocasionar
que depois de um, vence
o outro, e sincronizadamente...

destino,
frontal desatino, de frente
de íntimo contente, descrente;
desmaio, belisco de arrepiar
minha coluna, de repente:
repete, repete, repete
singelo desperdício
das palavras,
do suicídio
do suspiro

122

uma folha que começa em branco
tem frente e verso verso e frente
mas se ela tem verso ela não é +

VÁCUO

porque verso é algo que ocupa espaço
e vácuo não ocupa espaço algum aqui
mas se ela fosse vácuo não seria de -

- à primeira linha imaginária de 'A imaginação, Jean-Paul Sartre'

121

essa merda de pensar demais
ainda vai ter fazer um infeliz completo

acorda pra vida e olha pra frente
não adianta ir contra corrente
de repente vira rápido
demais pra fugir
de ser gente

Canções do Oceano #1

'deep blue heart'

adentro,
coração ciano,
não lhe sobrou nada...
nem o oceano, azul,
dá eternidade ao final!
das lembranças o navio
fez pó, do passado a memória
deu nó, não recordo, não me re-
lembro se era setembro e chuva,
ou primeiro e por fim, primavera...
ou se, se desfazia sol sobre seu choro;
e meu profundo azul coração sobre teu colo

heaven

#1 do arquivo intransferível, significante e pessoal

Caminho que o olho faz sobre o pulso traduzindo pele+tinta em infinito amor. O paraíso imagético que cabe em mim. Pulsando a espera do corte, meu braço é, no entanto; sede.

120

pára pra reparar
quem somos, essencialmente
indecência, inconstantes mutantes
é covardia minha pedir que fique quem só pode ir embora

mas ainda que não te aquete
- em mim, em ti, enfim -
irrite, pertube, incline
em S as costas
minhas