segunda-feira, 5 de julho de 2010

Um homem normal

Um desses dias de análise, estava eu na sala de espera, quando um homem adentrou a sala. Sem delongas ele desejou boa noite a mim e a senhora que estava sentada no sofá marrom ao lado do meu. Ele se sentou ao meu lado, no sofá branco. Eu bebia os últimos goles d'água da garrafa que havia comprado na cafeteria do prédio, quando percebi que entre o folhear das páginas de revista, o homem estava falando sozinho. A água desceu amarga, temi pois o considerei louco, de pronto. Ele falava algo que eu não conseguia entender e minuto após minuto falava mais e mais. A senhora do sofá marrom parecia se concentrar na revista que estava tentando ler, mas era nítida no seu rosto a preocupação de estar sentada tão próxima a alguém que em um consultório de análise, pela primeira vez presente no mesmo metro quadrado, era louco. Comecei então, vagarosamente, a analisar cada movimento daquele homem. Pude notar que mesmo folheando as páginas da revista, ele estava muito atento a tudo em sua volta. Meu olhar havia de ser sutil, para não ser notado. Temi que ele tomasse alguma atitude louca, visto que assim eu o via. Ele se levantou para ir ao banheiro só para acender e apagar as luzes. Abriu uma caixinha que havia no móvel e tirou de sua carteira algum objeto para depositar lá dentro. Fiquei extremamente curiosa. Será que ele havia colocado dinheiro? Será que ele via aquela caixinha -que se assemelhava a um baú de antiguidades- um lugar seguro para guardar algo de valor?
A água já havia acabado. Tia Vera chamou a outra senhora para entrar no consultório, e ele, levantando a voz na intenção de falar com ela disse: "-Vera, você pode me dar um copo de água, por favor?" E naquele momento, a fala sanou a loucura do homem. Eu notei que tinha sede e voz ativa. Molhando a garganta ele parecia ter ficado mais calmo. Já não falou mais sozinho. Começou a conversar comigo. E falando eu já nem podia mais lembrar das luzes acesas do banheiro ou do baú de antiguidades. Ele era apenas um homem normal.
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No dia seguinte me lembrei do acontecido. Eu abri a caixinha. E lá dentro estava um cartão pessoal. Com nome, telefone e e-mail.

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