sábado, 19 de junho de 2010

Uma tábua de passar...

Eu ando me perguntando das cicatrizes que a vida faz. Será que eu posso costurá-las com a linha que eu achar mais bonita num tecido florido e deixar tudo bem?

Ontem eu caminhava pelos lixos da cidade quando vi um pedaço de madeira recorberto de flores de algodão -elas estavam desbotadas do tempo- e sabia que mesmo que o cheiro ruim da comida que apodrecia naquela multidão de coisas, eu levaria o pedaço de madeira para dentro da minha casa. Eu vi nos seus rasgados e machas de queimado um laço de intimidade que me pareciam com as coisas que eu sentia; eu vi nas flores pintadas de lilás uma vontade de costurar um passarinho voando alto pronto a repousar... Levei o pedaço de madeira comigo e fui, remendando seus pedaços, me lembrando de mim. Num buraco eu pus uma foto de meus pais. No outro buraco eu não pus nada, deixei que a cicatriz ficasse exposta para todo mundo ver. E o passarinho preto, esse eu ainda estou costurando... E o costurei bem no cantinho, caso uma hora dessas ele queira voar pra bem longe daqui...

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