terça-feira, 3 de agosto de 2010

Esboço para um Teatro de Sombras

Mundi Ex Aqua
Por Renata Henriques


Existe um castelo, no alto de uma montanha, isolado do mundo.
Dentro do castelo, no quarto mais alto (que dá para ver toda a variedade de cores das árvores daquele lugar) vive uma menina. Uma menina só.

Dentro de seu quarto, dentro do seu mundo, ela não consegue dormir, as criaturas da noite que seus olhos e imaginação podem ver a assombram. Ela se dirige à janela do quarto, para ver a paisagem noturna. Todos dormem, a noite é calma e estrelada. Pássaros passam ...
Caí uma chuva, a princípio amena. A chuva aumenta seu ritmo. Caí mais forte, mais forte a cada minuto... O que era antes chuvisco começa agora a inundar toda a cidade. Ela não está com medo, ela se sente bem. Seu medo se vai, a chuva a acalma a alma.
Desbruçando-se na janela ela vê o que existe abaixo. O mar de águas já beira sua janela, ela vê criaturas marinhas. Tão sutis, tão encatadoras. Lá embaixo, no abissal marinho, ela encherga uma concha. Concha que emana imensa luz azul, e ela sente que precisa se entregar ao mar. Pula da janela, e caí. Mergulha rumo ao nada, ao desconhecido território dos mares... Paulatinamente seu corpo desce nas águas.

Se aproxima da concha, e há um cadeado nela. Nesse momento ela sabe: a chave que carrega no pescoço desde a infância era a única que abriria a concha...
Ela abre-a, e dentro há um menino: um pequeno menino de vestes longas.
Ele sai da concha e se aproxima dela... (nessa hora o ângulo muda: um frame preto torna a cena agora mais próxima, apenas dois rostos se encarando, se aproximando...) ( em seguida muda o frame novamente: o corte anterior ao último, agora com os dois mais próximos...)
E do nada, ela se afasta e sobe vagarosamente à superficie, olhando para baixo.
Ele, lá em baixo, retorna a concha.
Em seguida, ela retorna à sua janela, ficando na mesma posição da primeira vez que pousou seu colo na janela naquela noite.
O mar de águas vai descendo, os seres, sumindo.
A cidade volta a ser o que era antes...

Vê-se agora a passagem de tempo (noite-dia,dia-noite).
A noite, depois de 2 dias, ela chora... Suas lágrimas são tantas, tão pesadas e tão leais à sua dor que encheriam um mar como àquele, tal como em um dilúvio.
Os seres, não reaparecem... Apenas a concha iluminada de luz azul.
Ela desce, vagarosamente... Abre a concha.
Depara-se de novo com o menino, e sente que precisa dele.
Seu coração bate forte (som de coração que pulsa apaixonado). Ela arranca-o do peito e dá a ele.
Sem pensar, ele age da mesma forma. Os corações estão vazados... Há um buraco em seus colos.
Próximos, eles dão mãos e caminham em direção à concha.
Encaixam seus corações ao contrário, um no outro.
São tomados de imensa luz vermelha.
Entram na concha e vivem juntos.
Para sempre. Todo e para sempre mágico mundo das águas.

Itens desenhados:
Castelo
Montanha
Árvores
Criaturas da Noite
Estrelas
Pássaros
A menina - frente, lado, perfil grande
Chuva
Criaturas do Mar
Níveis de Água
Concha com cadeado
Cordão com chave
O menino - frente, lado, perfil grande
Lágrimas
Corações


(texto de 2009)

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